segunda-feira, 1 de março de 2010

Do amor


“Sossegue, Carlos, o amor é isso que você está vendo...”
Eu adorava esse poema. Lia, relia, trelia, vivia. É engraçado como nos identificamos com as palavras dos outros quando não conseguimos nos expressar. E é engraçado também como essas palavras, as dos outros, parecem nos fazer sentir ainda mais forte o que já sentíamos.
Seja música, poesia, até mesmo filme, parece que falaram exatamente o que você falaria, escreveram exatamente o que você escreveria e cantaram exatamente o que você cantaria. Só que você não disse, não escreveu, não cantou e só lhe resta repetir. Fazer o quê? Os sentimentos podem até ser parecidos, só que não é fácil ter a genialidade e o talento de alguns.
Mas é engraçado porque quando eu vejo algo que eu queria ter escrito me vem uma sensação de certeza de que eu teria escrito se já não o tivessem feito. Mas é meio óbvio que isso jamais aconteceria... A verdade é uma só: quem nunca se pegou cantando uma música, assumindo letra e melodia para sua vida como se aquela verdade saísse diretamente do seu coração? E eu acho que sai mesmo. Em algum momento pode até parecer pensar com a cabeça do outro, ou mesmo sentir com o sentimento do outro (isso existe?). Mas acho que seres humanos são tão complicadamente parecidos que para alguns poucos foi dado o dom de falar pelos outros. Será?
E o amor, por mais universal que seja, pra cada um parece ser de um jeito. Ou talvez sejam os momentos da vida da pessoa. Pra uns pode ser “fogo que arde sem se ver”, pra outros há de ser “eterno enquanto durar”, pra outros ainda ele “tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta”. E em alguns momentos, para alguns, pode até parecer “um escuro, não um claro, um grito que ninguém ouviu no teatro.” Pode ser escolha e até sorte, ou pode ser mandamento. É engraçado, mas é verdade: umas pessoas a gente aprende a amar, outras a gente já nasce sabendo.
Não se animem, amigos, eu não vim falar o que acho do amor. Até porque não acho. Pra mim parece ser isso tudo misturado, sei lá.
Só, por um instante, lembrei desse grito mudo no teatro escuro. Mas, vamos combinar, eu nem me chamo Carlos....