terça-feira, 31 de agosto de 2010

De faxineiras e intimidades


Certo estava meu avô, que eu nem conheci, mas que há décadas já dizia: empregada não é um mal necessário, é um péssimo necessário. Dia da faxina! A faxineira fascinante já chegou na minha casa e o dilema da faxina impera no meu lar. Sim, é um dilema! No início tudo são flores. Ela é de confiança, tem boas referências, então você pode sair pra fazer qualquer coisa que te livre da incômoda sensação de dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço, no caso, seu mini-apartamento. Na volta, a casa está cheirosa, limpinha, nenhuma poeira, janelas impecáveis, tudo do jeitinho que você pediu. Mas o tempo vai passando e a liberdade de estar sozinha na hora da faxina parece ir diminuindo a qualidade do serviço. É uma prateleira que ficou com poeira numa semana, uma manchinha no chão na semana seguinte, a janela sem limpar, a cozinha sem brilhar... E os pequenos defeitinhos do início começam a parecer enormes: é a “palheta que tava dentro da gaveta, e a gaveta dentro do congelador. E o pior é que a geladeira tava dentro da banheira e a banheira no meio do corredor.”
Aí começa o dilema. Fico ou não fico em casa? Ficar em casa gera aquela pressão, as coisas ficam mais bem feitas, mas por outro lado, eis que a dita cuja começa a se sentir íntima da dona da casa. São casos e mais casos de namorados ciumentos, filhos com problemas na escola, vizinhas metidas e fofoqueiras, e por mais que se responda com um simples ã-hã, a fim de evitar delongas, os casos não acabam nunca. Toda semana tem alguma coisa sobre o que se falar. No caso, sobre o que ela falar e eu ficar ouvindo, enquanto faço, ou tento fazer minhas coisas. Daí pra começar a dar palpite na minha vida é um pulo. Mas não precisei esperar esse pulo. Eis que um dia ela se sentiu à vontade o suficiente pra usar a escova de cabelo do meu marido. Gota d’água, né? Vou partir pra outra, pra daqui um tempo ter que passar pelo mesmo dilema... será que tem que ser assim? Nesse processo de “se sentiu muito à vontade, tá na hora de trocar”, já é a minha terceira.
Pode até parecer maldade minha, mas eu não quero uma faxineira amiga, cheia de liberdades, que venha pegar meu filho no colo quando ele chorar. Quero uma faxineira robô, que faça o serviço e volte pra sua casa da mesma maneira que chegou, sem interações. E justo agora que eu estava precisando que ela viesse duas vezes por semana... O bebê vem aí e eu não consigo nem imaginar a possibilidade de mais uma pessoa para dar palpite nos cuidados com o recém-nascido. Sim, porque existe um fenômeno que acontece na maioria das mulheres que já tiveram filho que é elas se sentirem no direito de dar opinião na maneira de você cuidar do seu. Se é o primeiro então, se prepare! Uma avalanche de tias, primas distantes, amigas da mãe, amigas da sogra e, liderando o grupo, a própria sogra, irá aparecer do nada para dar opinião sobre tudo que envolve o universo do bebê.
Então, fugindo de mais uma “amiga” pra dar um palpite duas vezes por semana, sempre que o bebê chorar por causa de uma cólica, ou não quiser mamar, ou simplesmente se eu colocar uma manta mais fina e ela achar que está inapropriada para o clima, resolvi mudar. Vou começar com uma novinha, sem liberdades, sem escovas de cabelo e esforçando-se para demonstrar um bom serviço no início do “contrato”. Meu sonho mesmo era ter aquela robô do desenho dos Jetsons. Mas depois, comecei a pensar bem e lembrei que até ela era intrometida e ficava dando opinião na vida dos donos da casa. Além do meu avô, esse Nei Lisboa também estava certo: “num instante fascinante, de repente tão ruim”.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Da arte de ser mãe

Sempre que se fala disso eu lembro daquela música: “avental todo sujo de ovo...” Eu, particularmente nunca sujei o avental de ovo. Pensando bem, acho que nunca fritei um ovo aqui em casa. Avental também eu raramente uso. Mas, no entanto, não sei bem porque, eu me identifico com esse pedacinho da música.
Tá que eu nunca sujei o avental de ovo, mas meu sofá já foi sujo de inúmeras outras substâncias, como leite, papinha, xixi (um milhão de vezes!), cocô, vomitado, e nem lembro mais o quê. Já paguei caro pra lavar. Ficou limpo. Mas assim, sabemos muito bem que ele nunca mais foi o mesmo sofá de antes do neném nascer... E é claro que poucos dias depois da lavagem um novo xixi reinaugurou o pobre coitado. Tirar as fraldas é assim...
Tem alguns outros pontos críticos na arte de ser mãe. Cinema virou coisa rara! Se o filme que você queria ver está em cartaz, apresse-se em arrumar algum voluntário pra ficar com o seu filho na sexta ou no sábado à noite (nossa, como é difícil às vezes!) ou dê reviravoltas em seus horários pra dar um jeito de ir no meio da semana mesmo (geralmente é um pouco mais fácil arranjar voluntários). Você pode também contratar uma babá pra tomar conta da sua cria por algumas horas, ou pagar 10 reais pra sua sobrinha adolescente e seja o que Deus quiser...
Na verdade não foi só o cinema que virou raridade. Determinados bares ou lugares que não são muito apropriados também já foram descartados das nossas listas para happy hour, jantares ou almoços, seja em família ou entre amigos. Agora pra sair tem que ser um lugar que tenha espaço para as crianças, de preferência com recreadora (e torça muito para que ele vá com a cara dela). “Otras cositas más” só com horário marcado mesmo, e olhe lá...
Mas ser mãe é uma das mais paradoxais artes. Por algum motivo inexplicável é bom estar entre choros, fraldas e mamadeiras. E por algum motivo mais inexplicável ainda eu resolvi ter mais um. Justo agora que os xixis no sofá haviam se tornado mais raros...
A verdade é que acordar de madrugada, cansada e nervosa parece não ser tão ruim assim quando nos deparamos com os mais puros olhinhos e o mais lindo sorriso do mundo. E sofá a gente compra outro quando eles já forem adolescentes!




segunda-feira, 1 de março de 2010

Do amor


“Sossegue, Carlos, o amor é isso que você está vendo...”
Eu adorava esse poema. Lia, relia, trelia, vivia. É engraçado como nos identificamos com as palavras dos outros quando não conseguimos nos expressar. E é engraçado também como essas palavras, as dos outros, parecem nos fazer sentir ainda mais forte o que já sentíamos.
Seja música, poesia, até mesmo filme, parece que falaram exatamente o que você falaria, escreveram exatamente o que você escreveria e cantaram exatamente o que você cantaria. Só que você não disse, não escreveu, não cantou e só lhe resta repetir. Fazer o quê? Os sentimentos podem até ser parecidos, só que não é fácil ter a genialidade e o talento de alguns.
Mas é engraçado porque quando eu vejo algo que eu queria ter escrito me vem uma sensação de certeza de que eu teria escrito se já não o tivessem feito. Mas é meio óbvio que isso jamais aconteceria... A verdade é uma só: quem nunca se pegou cantando uma música, assumindo letra e melodia para sua vida como se aquela verdade saísse diretamente do seu coração? E eu acho que sai mesmo. Em algum momento pode até parecer pensar com a cabeça do outro, ou mesmo sentir com o sentimento do outro (isso existe?). Mas acho que seres humanos são tão complicadamente parecidos que para alguns poucos foi dado o dom de falar pelos outros. Será?
E o amor, por mais universal que seja, pra cada um parece ser de um jeito. Ou talvez sejam os momentos da vida da pessoa. Pra uns pode ser “fogo que arde sem se ver”, pra outros há de ser “eterno enquanto durar”, pra outros ainda ele “tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta”. E em alguns momentos, para alguns, pode até parecer “um escuro, não um claro, um grito que ninguém ouviu no teatro.” Pode ser escolha e até sorte, ou pode ser mandamento. É engraçado, mas é verdade: umas pessoas a gente aprende a amar, outras a gente já nasce sabendo.
Não se animem, amigos, eu não vim falar o que acho do amor. Até porque não acho. Pra mim parece ser isso tudo misturado, sei lá.
Só, por um instante, lembrei desse grito mudo no teatro escuro. Mas, vamos combinar, eu nem me chamo Carlos....

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Da rede interativa

Eu não me lembro muito bem com o que eu perdia o meu tempo na adolescência, lá pelos idos dos meus 15 aos 20 anos. Que eu perdia, eu tenho certeza e me lembro muito bem, mas acho que não havia uma coisa muito específica. O fato concreto é que minha vida de estudante não era tão produtiva quanto poderia ser se não houvessem esses atrativos. Longas conversas no telefone com as amigas, programação da tarde da televisão, ainda que de péssimo gosto, músicas dos mais variados estilos, elucubrações infinitas sobre amores e desamores, 15 minutinhos de cochilo que sempre tomavam quase a tarde inteira, cartas e poesias, e por aí poderia listar inúmeros destinos para o meu tempo. Que bom que não havia o largo alcance que a Internet tem hoje! Assim eu consegui pelo menos passar no vestibular e até me formar! Venhamos e convenhamos, quanto tempo eu gasto aqui!!! Muitas vezes uso para coisas produtivas, mas a maioria das vezes é pras improdutivas mesmo.
Passeando pelo orkut (da categoria das coisas improdutivas) vi várias comunidades com nomes do tipo: “Tenho que estudar, mas tô na net”; “Amanhã tem prova e eu no orkut” e ri. Não porque eu tenha prova amanhã, mas mais precisamente porque minha tese de doutorado ainda não está pronta. E mesmo sabendo que não está pronta, que o prazo me enforca a cada dia, e que ainda falta revisar tudo o que eu já escrevi e, quem sabe, escrever mais uma coisinha ou outra aqui e ali por sugestão do orientador, não consigo largar mão da minha fazendinha do orkut. Ou mesmo dar uma olhadinha nos tópicos das comunidades que eu mais gosto pra saber o que anda rolando. Tudo bem que ultimamente é o tempo de entrar, colher a produção, alimentar os animais e sair e quase não dá pra roubar ou cuidar da fazenda dos amigos (que, cá entre nós, é a parte mais divertida do jogo). Mas se eu fosse somar o tempo que já usei com essa fazenda, com o orkut, mesmo sem a fazenda, com a leitura dos blogs de amigas e de ilustres desconhecidos e links e mais links ao longo das navegações, acho que dava pra entregar umas três teses prontas e revisadas. Hoje o fato concreto é que minha vida de “intelectual”, e a de milhares de pessoas em suas diferentes funções, não é tão produtiva quanto poderia ser se não houvesse esse atrativo específico chamado Internet.
Mas, fazer o quê? O que seria de mim sem esses momentos? Ou sem os longos telefonemas nas tardes de outrora? Ou sem o mundo de poesias (se é que podem ser chamados assim aqueles escritos) durante as aulas de química, física, matemática? Definitivamente, eu não seria eu.